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Fotos: Fábio Pavan e Arquivo pessoal/Divulgação Áurea: Significa “ouro”, pessoa com qualidades de ouro, preciosa como o ouro, valiosa, brilhante. Cuide do jardim e deixe as borboletas e beija-flores livres para voltar. Ela é natural de Santa Margarida/Salete, mas em seu peito bate um coração lageano há 40 anos, dividindo o compasso das batidas apaixonadas pelo Guarujá, onde mora há 34
Assim como a terra precisa estar bem adubada para ser fecunda e render frutos, o coração e a mente humana devem exercitar pensamentos e atos de bondade e respeito pelo próximo, a fim de colher as recompensas de uma vida harmônica em sociedade, do quintal de casa à igreja da comunidade, do bairro ao centro da cidade.
O bom, velho e famoso ditador popular “Uma andorinha só não faz verão” pode ser bem interpretado pelas atitudes de alguns moradores do bairro Guarujá. Corajosos e determinados, decidiram que juntos iriam montar um jardim a céu aberto em área pública de uso coletivo, como um agradecimento aos presentes da natureza e ao proporcionar alimento saudável e livre de agrotóxicos e pesticidas nocivos. E mais: Mergulhando na prática da compostagem como método sustentável de cumprir o ciclo do alimento, que volta para a terra e é multiplicado em novos tipos de hortaliças e frutas. Folhas, galhos triturados, serragem, cascas de frutas e legumes. Este rico produto vira adubo e não é desperdiçado.
Como uma fênix que ressurge das cinzas em um recomeço diante do caos e da tensão mundial provocados pela pandemia do novo coronavírus, causador da doença Covid-19, homens e mulheres são os super-heróis do meio ambiente. Sim, o jardim começou a ser montado pela destemida turma em 2020.
Flores, chás medicinais e frutas enfeitam as laterais da rua Valentim da Silva Muniz, no trecho abaixo das torres de comunicação, situadas no bairro Guarujá. Como neste espaço não há residência e trata-se da continuidade da rua no local abaixo das torres, era comum o descarte inadequado de resíduos sólidos, como móveis e entulhos de construção civil; orgânicos, como galhos de árvores, e até animais mortos. Há relatos de que pessoas de outras ruas se deslocavam até o endereço para despejar lixo, tornando-o em um “lixão”.
Descontentes e indignados com o descaso, indiferença e desleixo, um grupo de moradores resolveu arregaçar as mangas e tomar uma medida para não ver a rua abandonada pela falta de empatia dos próprios cidadãos. E o que era um espaço desagradável se transformou em uma fonte de vida, beleza e encantamento. O acúmulo e aglomeração de itens depositados inapropriadamente, desconforto visual e mau cheiro sumiram e liberaram o paisagismo, arborização e o aroma de bem-estar das plantas. São árvores de ipês, cerejeira flor, orquídea de chão, hortênsias, goiaba serrana, romã, limão, araçá, figo, uvaia, pitanga, pêssego, laranja e tomate cereja, e os chás cidró, melissa e alecrim, que também serve como tempero.
As plantas frutíferas já oferecem seus frutos da época do fim do verão e início de outono, arrancando suspiros por sua delicadeza nos seus desenhos, colorações, texturas, fragrâncias e suculências, portanto, já podem ser colhidos lindos figos, araçás, uvaias e romãs, e o fruto da linha gourmet, os adocicados tomates cereja. Nasce, aí, o Projeto Minha Rua Mais Linda.
De quem foi a brilhante ideia?
Normalmente, quando falamos em ações em conjunto, como forma de mutirão para fazer uma lavoura, construir uma casa a uma família em vulnrabilidade econômica e social, cooperar em uma mudança de móveis de residência, arrecadar ingredientes e auxiliar em um almoço ou jantar beneficente em favor de uma pessoa em tratamento de saúde, vestir-se de Papai Noel para angariar brinquedos e doces como presentes a crianças do bairro, sempre lembramos de personagens famosos em nossas comunidades. Este é o caso de Aurea Schwabe Pereira, uma das lideranças comunitárias do bairro Guarujá, que deu o pontapé inicial, com o apoio de um grupo de amigos que, à época, eram todos da diretoria da Associação de Moradores do Guarujá, entre os quais, Luís, Rita e Zilma. “Foi um sábado, na pandemia, todos de máscaras, e foi lindo demais. Conseguimos o apoio de um empresário do bairro, Marcio Althoff, que cedeu uma retroescavadeira e caçamba para nos ajudar retirar a grande quantidade de entulhos e lixo existentes nas três ruas. Também conquistamos o apoio de outros empreendedores, senhor Airton Sirtoli, e Fabiana, da loja Tarifa Zero, para fazer as placas educativas, algumas ainda estão lá. Cada um levou ferramentas e mudas de casa. Plantamos muito, sobrou pouco daquela época”, relembra Aurea. Sobre a manutenção do jardim, “várias vezes já paguei para roçar. Em algumas vezes tenho o apoio da prefeitura na roçada”. A iniciativa das placas “Jogue lixo no lixo - Mantenha a cidade limpa” é da Associação de Moradores do Bairro Guarujá (AMBG) - Juntos somos mais fortes, com apoio das empresas Tarifa Zero Moda & Acessórios, Posto Guarujá e Avançar Gráfica e Comunicação Visual.
Os espaços de três vias estavam tomados pelo lixo. Naquele tempo, foram agraciadas três ruas - Vera Cruz, Emilio Jacinto Ferreira Valentim da Silva Muniz, todas com trechos abaixo das torres, Infelizmente em duas ruas não foi possível manter os cuidados. “É complicado conseguir cuidar de três e, como tinha vandalismo, arrancavam, estragavam, aí só mantive este mais perto e às vezes ainda vem alguém arrancar as plantas e estragar por pura maldade. Mas eu sou brasileira, não desisto fácil.”
Domingo é dia de cuidar do jardim!
Com o desacelerar dos compromissos da semana, Aurea aproveitar de aliar momentos de descanso a minutos de dedicação à preservação das flores e árvores de frutas. “Eu geralmente no domingo de manhã tiro um tempo para limpar ao redor das mudas, adubar e podar. Frequentemente, eu jogo as cascas de frutas e verduras e a grama que retiro do corte de grama de casa, para servir de compostagem.”
E de onde saíram as mudas cultivadas no jardim? “A maioria eu mesma fiz de sementes das frutas que como, pois tenho esse hobby. A maioria nasce de sementes das frutas que consumimos em casa, tanto que em algumas covas têm mais de um tipo. Também de mudas que retiro galhos e faço. De algumas colho sementes, e também faço doação destas mudas quando tenho sobressalente. Outras ganhei do CAV [Centro de Ciências Agroveterinárias, da Universidade do Estado de Santa Catarina - Udesc], outras ganhei em ações de distribuição de mudas em eventos.”
O futuro do jardim
“Estamos aguardando a decisão a respeito do que será feito neste espaço abaixo das torres, com a conclusão da parte faltante da pavimentação asfáltica. Há planos de virar um espaço de lazer e atividade física. Aí talvez estas plantas precisem ser mudadas. E têm mais vizinhos seguindo o meu exemplo, só que estamos fazendo aleatoriamente, sem planejamento ou um projeto. Acredito que o Poder Público possa nos apoiar para termos um padrão, ficar mais harmonioso.”
Projeto Minha Rua Mais Linda
O escopo de mais esta mobilização comunitária no bairro Guarujá consiste em sensibilizar e conscientizar as pessoas sobre aproveitar elementos naturais ao máximo da sua potencialidade. Galhos de árvores viram lenha para quem precisa. Podem ser colocados na frente das casas e solicitar-se, no Guarujá Social, a sua retirada, pela Secretaria de Serviços Públicos e Meio Ambiente. Grama e folhas são adubos para a horta.
Materiais recicláveis podem ser depositados em frente às moradias para o recolhimento pelo caminhão de coleta. Entulhos podem ser reutilizados em obras caseiras ou deve-se ser solicitado o serviço de “papa-entulho” junto a empresas especializadas.
Capricho: Do pátio de casa para fora
Aurea acredita: “Cada um pode e deve cuidar da frente de sua casa. Creio que a prefeitura possa fazer campanhas de incentivo.”
Comunidade unida jamais será vencida!
Escolinhas de futebol de campo, Guarujá Social e Associação de Moradores em atuação em benefício das pessoas que vivem em vulnerabilidade social, são ilustrações da alta atividade e movimentação do bairro.
Uma cidadã catarinense de berço e lageana de coração e amor
“Agradeço a todos que estão contribuindo com esta ideia. Nossa rua ficou bem melhor. Podem ficar àvontade para colher chás e frutas. Se alguém quiser muda de alguma espécie plantada pode solicitar a mim ou pode retirar. É só lascar um galhinho, e cuidar para não quebrar o pé da plantinha. E se puderem, continuem me ajudando a cuidar! Obrigada pela parceria!”
A vocação de cuidar das pessoas
Ela é natural da localidade Santa Margarida, município Salete, mas em seu peito bate um coração lageano há 40 anos, dividindo o compasso das batidas apaixonadas pelo Guarujá, onde mora há 34.
Intensamente atuante na região do bairro Guarujá há décadas, Aurea alimenta o dom de cuidar das famílias e da estética do local onde se vive e se escreve suas histórias pessoais, profissionais e de empreendedorismo, já que aquela área da cidade está em ascensão de desenvolvimento econômico e social.
Casada e mãe de uma filha de 29 anos, em sua trajetória estão participações em várias entidades - presidência do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg), da Polícia Militar (PM), da Associação de Pais e Professores (APP) da Escola de Educação Básica (E.E.B.) General José Pinto Sombra, do Conselho de Pastoral da Comunidade/Comunitário (CPC) da Paróquia Nossa Senhora da Saúde e da Associação de Moradores do Bairro Guarujá. E ainda reservou tempo, disposição e perseverança para ousar na política e se candidatar à vereadora.
Quem é a Aurea pela Aurea?
“Sou Aurea Schwabe Pereira. Trabalho como executiva de vendas em uma emissora de rádio e sou terapeuta de reiki. Amo minha família, meus amigos e os animais. Sou apaixonada por plantas, por crochê. E sou apaixonada pela vida!”
Aurea: Um Orgulho Lageano de tirar o chapéu
Para você, o que é ser um Orgulho de Lages? “É uma honra! É ter orgulho de morar na nossa cidade, brigar para conseguir melhorias e contribuir no que for possível cuidando do próprio ‘lixo’, da frente da minha casa e por que não da minha rua? Meu sonho é ver essa entrada do Guarujá linda. Já é muito melhor em virtude do empenho da Associação de Moradores que batalha por mudanças. Como referência das evoluções temos o nivelamento de parte do trajeto abaixo das torres e a substituição das próprias torres.” A líder ainda acrescenta: “Com a chegada do shopping, Havan, Cassol, Brasil Atacadista e Myatã nesta região, ficamos ainda mais em evidência.”
“Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé”
Como diz a letra da música Tá Escrito, samba composto por por Xande de Pilares, Carlinhos Madureira e Gilson Bernini, e cantada pelo Grupo Revelação: “Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé/Manda essa tristeza embora/Basta acreditar que um novo dia vai raiar/Sua hora vai chegar”. Aurea dá uma injeção de ânimo àquelas pessoas se sentindo isoladas, frustradas, sem enxergar um a luz no fim do túnel. “Todos temos alguma capacidade. Ninguém vive sozinho, se nós ajudarmos a cuidar ou a fazer algo pela comunidade, nosso bairro pode ser melhor, nossa rua pode ser melhor e, em consequência, nossa cidade. Eu não vim no mundo a passeio, gosto de estar sempre ocupada! Desde pequena, na localidade Santa Margarida, município Salete, eu já tinha meu pai como exemplo. Estava sempre envolvido em ajudar na comunidade, na igreja. Uma das minhas irmãs é assim lá até hoje. E eu aqui em Lages sempre estive envolvida, já fui da Associação de Pais e Professores (APP) da escola, da igreja, da Associação de Moradores fui presidente, e participava de outras diretorias. A gente luta para ver o bairro com limpeza, beleza e mais qualidade de vida para todos. Não se pode esmorecer. Todos precisamos uns dos outros para vivermos mais e melhor.”
Texto: Daniele Mendes de Melo
Fotos: Fábio Pavan e Arquivo pessoal/Divulgação
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